segunda-feira, 7 de junho de 2010

Faludi e a guerra não declarada contra as mulheres

A mídia contra a revolução feminista


Susan Faludi é uma jornalista estadunidense que, em 1991, publicou o livro “Backlash: o contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres”. Nele, analisa farto material para embasar sua tese de que, nos anos 80, houve uma onda conservadora focada em minar os direitos adquiridos pelas mulheres durante a década de 1970. Essa onda influenciou várias áreas, com destaque para jornalismo, publicidade, moda, beleza, livros, cinema, seriados de televisão, medicina, psicologia e políticas públicas.


Faludi nasceu em uma família judia no Queens, em 1959, e cresceu em Yorktown Heights, Nova York. Sua mãe era uma dona de casa e jornalista. Seu pai, um fotógrafo que emigrara da Hungria, um sobrevivente do Holocausto. Ela se formou pela Universidade de Harvard no ano de 1981, tornando-se jornalista. Escreveu para o The York Times, Miami Herald, Atlanta Journal Constitution, San Jose Mercury News, e o The Wall Street Journal, entre outras publicações. Nos anos oitenta, ela começou a se dedicar a questão do feminismo, escrevendo vários artigos. Ao se debruçar sobre este tema e observando um padrão emergente, a autora começa a escrever Backlash, que só seria lançado em 1991. Este trabalho lhe valeu o National Book Critics Circle Award de ficção em geral e se tornou um marco nas discussões sobre a importância e o impacto do feminismo. A publicação acabou superando expectativas e tornou-se um clássico da literatura feminista, mas só agora está sendo lançado no Brasil, pela Editora Rocco.


O objetivo do livro é refutar a tese, por vezes divulgada pela mídia, de que a campanha pela igualdade da mulher seria a causadora de todas as suas frustrações. Ou seja, a mulher seria o sujeito escravizado por sua própria libertação. Essas acusações podem parecer estranhas, mas, segundo a autora, foram sustentadas, muitas vezes de forma velada, por grandes veículos dos anos 80 como o The New York Times, a Vanity Fair a e a Nation. Essa idéia, combatida ela autora, defende que o movimento feminista agiria, portanto, como o maior inimigo da mulher, gerando paradoxalmente um efeito contrário ao que propunha desenvolver. Com esta obra, Susan busca desmascarar esta questão e revelar como essa insidiosa guerra contra os direitos da mulher transformou-se em um fenômeno cultural amplamente difundido.


“As feministas ainda são vistas como bruxas amargas tentando dominar o país. As mulheres mais jovens, com menos de 30 anos de idade, temem que, ao se revelar feministas, os homens saiam correndo.” (Faludi, Susan)


É fato que as feministas são geralmente estereotipadas como infelizes, solteironas, solitárias e não realizadas. Faludi afirma que esta posição foi, e ainda é, reproduzida e ratificada pelos meios midiáticos, que transmitem uma visão da mulher independente e feminista como uma pessoa desesperada e infeliz. E mais, o feminismo e a busca por liberdade e igualdade de direitos seriam os principais causadores deste processo. “O triunfo da igualdade, eles alegam, só serviu para dar às mulheres problemas alérgicos, dores de estômago, tiques nervosos, por fim, coma”(Faludi, 1991).


O Backlash seria exatamente isso, esse contra-ataque aos direitos da mulher, iniciado nos anos 80, levando a um retrocesso e uma tentativa de reduzir as pequenas vitórias feministas conquistadas até então. Esse refluxo antifeminista proclama que as mesmas iniciativas que levaram a mulher a uma posição superior foram responsáveis por sua ruína. A definição de um Backlash é, então, a de um movimento de hostilidade contra a independência feminina de forma a dificultar o progresso da busca pela igualdade de gênero.


Porém, a forma como a mídia veicula esta ideologia de que as mulheres seriam escravas de sua própria libertação é, na maioria das vezes, mascarada. Por trás de meios que supostamente apóiam a igualdade de gênero existem pensamentos machistas e conservadores, que apenas ratificam a posição da mulher como o “segundo sexo”. Essa ideologia machista repaginada, sustentada pelos meios de comunicação, aprisiona a mulher a uma ótica masculina enquanto proclama aos quatro ventos a liberdade e os supostos direitos conquistados pelas mulheres. Contudo, o que esquecem de mencionar é que as mulheres têm sim o direito de ser livres, desde que sejam “máquinas de fazer sexo, de corpo equiparável às musas do Big Brother e com o dever de rejuvenescer a cada bolo de aniversário, no melhor estilo Benjamim Button” (Becker, Guilherme).



Culpar o feminismo pela infelicidade das mulheres significa não entender nada do movimento feminista. O feminismo continua sendo um conceito bastante simples, apesar das repetidas – e extremamente eficazes – tentativas de pintá-lo com cores sombrias transformarem suas defensoras em verdadeiras gárgulas. Como escreveu Rebecca West ironicamente em 1913: eu mesma nunca cheguei a entender direito o que quer dizer feminismo: só sei que as pessoas me chamam de feminista toda vez que expresso sentimentos que me diferenciam de um capacho”.


Links e fontes:


Site oficial de Susan Faludi: http://www.susanfaludi.com/

Entrevista feita pela revista Época: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI134558-15227,00.html

Download do livro Backlash, em PDF: http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2009/02/441524.shtml

Texto sobre machismo, de Guilherme Becker: http://www.carascomoeu.com.br/2010/01/machismo-20.html

2 comentários:

  1. Estou lendo esse livro e gostando muito, ele nos abre os olhos quanto a esta ofensiva ultradireitista que ataca o feminismo e tenta minar todas as conquistas femininas, atribuindo ao feminismo um pressuposto de demonismo, algo que quer destruir a família, Os "conservadores" trabalham arduamente para fazer com que a mulher retroceda na busca de sua autonomia e se sinta culpada.

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  2. Estou lendo este livro, e é muito bom, fez-me entender o ataque deliberado dos ultraconservadores de direita ao feminismo, colocando feministas como diabólicas, destruidoras da família, tudo isso uma engenhosa estratégia para minar os direitos já conquistados das mulheres e levá-las a se sentirem culpadas e retroceder na luta por autonomia.

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